sábado, 6 de agosto de 2011

(Por Joyce B. Freitas, Pimenta de Cheiro, Salvador-Ba, 2011)




De Coragem e Zelo
Meu amor,
Há pouco se completou meio ano que te amo tanto que resolvi anunciá-lo assim aos quatro ventos, entendendo que escrever é sempre um ato extremo de revelar-se, meio desesperado de entender-se, enfim, de desnudar-se desde a alma. É assim escrever – tem sido assim – ainda mais quando se ama.
Pois bem: eis aqui um manifesto público do meu fascínio grave pela sua presença luminosa nos meus dias. Devo dizer também que nestes últimos tempos estar ao seu lado tem me enchido de coragem ante a vida. A propósito, o amor não é mesmo afeito à coragem? Aliás, seria todo amor assim, dado à coragem? Não sei. Mas se não for mesmo o caso, só sei que te amar particularmente me enche de: você é a coragem. E estou feliz com tudo isto.
Feliz. Vai ver então que Nietsche tinha razão: “a alegria da vida é a luta, amigos”. E se é mesmo a luta – se não vencê-la, ao menos vivê-la intensamente – seria a coragem que vem do amor que nos move mais fortalecidos frente às batalhas cotidianas todas. O acordar, as seqüências dos dias, os inusitados, a sobrevivência, pois: o amor amansa.
Afora batalhas e coragem, eis que o amor é todo ele zelo. Sim, na contramão das lutas, políticas, diplomacias, concessões e estratégias, o amor também é afeito ao zelo. É como dizia brilhantemente a senhora Lispector (acho que ela mesma): todos os dias quando acordo, corro para tirar a poeira da palavra amor. É verdade: sobre o amor, não se pode deixar assentar a poeira densa dos mal-entendidos, das torpezas tão intrínsecas à condição humana, das hostilidades possíveis mesmo quando se ama tanto. Definitivamente, é preciso espanar a poeira. Lustrar o amor, revelar diariamente os seus brilhos, seus encantos. Amor é para reluzir à revelia do peso ofuscante dos dias e suas contingências todas.  
Amor é todo zelo. É olhar de primeira vez. Aliás, a vida toda – o mistério de viver todo ele – deveria ser sempre um olhar de primeira vez porque tudo é dado a se acostumar: do sofrer à beleza insondável que é o existir de tudo. Resta-nos então, amor, é um acostumar-se encantado: assim cheio de coragem e zelo.
Ana Clara Rebouças

3 comentários:

  1. O que seria do nosso mundo sem o amar,o gostar,o respeitar.

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  2. E oq seria do nosso mundo sem esse olhar de Ana Clara?Tão lindo e tão apaixonado pela vida?Tão confiante na beleza das pessoas?

    Vc é toda amor Ana. Belíssimo texto.

    bjus

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