quinta-feira, 24 de novembro de 2011


(Foto: Ana Clara Rebouças, RJ-RJ, 2011)

Nomes, Práticas e Virtudes
Tenho pouco mais de três décadas de vida – graças a Deus – bem vividas e, como qualquer ser humano, levo um punhado de virtudes e outro tanto de defeitos, os quais tento corrigir – e este esforço já seria por si só algo como uma qualidade. Em se tratando da prosa, ou da poesia, sou mais afeita às universalidades do que as particularidades: este texto seria, portanto, uma exceção. Todavia, ao discorrer sobre práticas e virtudes, e destinando a elas nomes e sobrenomes, ainda assim não seria de todo um empenho pessoal: é que nos encontramos nos mais particular detalhe das existências alheias.
Coragem, por exemplo. Todo mundo aprende com alguém ou com algum fato particular como ser um pouco mais do que já fomos outrora. Sobre ela, venho eu aprendendo muito com meus pais, uma grande amiga chamada Cláudia Avellar e com Guimarães Rosa, quem diz tão claro e sabiamente: o correr da vida embrulha tudo; a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta; o que ela quer da gente é coragem. Já meus pais e Cláudia ensinam-me na prática, no exercício árduo do dia a dia, a coragem. Venho compreendendo, portanto, que entre o intervalo do abrir os olhos a fechá-los novamente, deve caber em tudo, absolutamente tudo, coragem.
Serenidade. Tenho uma porção de amigos – feliz que sou por isto – e, dentre todos e suas virtudes, há aqueles que têm me ensinado especialmente sobre a serenidade. Exercício difícil, mas sobremaneira necessário este da serenidade porque quase sempre na contramão das urgências nossas cotidianas. Traduzindo concretamente o valor desta virtude – mesmo me ocorrendo um exemplo meio piegas no momento – vale o esforço: como se a serenidade fosse um passeio pausado sobre a vida, e não um trem bala desde onde não se pode nem sequer perceber o que há de bom nos caminhos todos. Marília Prado e Rosa Maria – em seus modos de ser - me ensinaram um pouco sobre isto.
Atenção. Eis uma tarefa difícil esta da atenção porque a vida é mesmo muito densa e rica de detalhes a se atentar. E na contramão de qualquer serenidade, é tudo um tanto turbilhão que é árdua atentar-se muitas das vezes. Para este particular, minhas amigas virginianas, e dentre elas Clarissa, Joyce e Cibelle, ensinam-me a arte da observação atenta, discreta, fina dos pormenores da vida.
Despretensão. E aqui especificamente falo em nome de um estar despretensioso dentro dos minutos vida afora. Algo que tem a ver com leveza de alma. Algo como um estado quase constante de alegrias permanentes: como aquela de se saber vivo. Algo como o bom grado frente às contingências. Desta virtude partilham muitas das minhas queridas amigas, digo, quase a maioria delas; e são tão ricas, tão nobres: a grandeza é mesmo inversamente proporcional às pretensões.
Fé. Sobre a fé venho aprendendo que se trata de algo que prescinde de todo o saber, mas ao mesmo tempo dele se nutre. Isto é o que vale dizer: sabendo – na verdade, supondo saber, como é dado a todo saber – ou mesmo desconhecendo os etéreos e os concretos da vida, todos os caminhos levam, em algum momento, à fé. Neste sentido, Albert Einstein talvez tenha sido dos mais crédulos dos homens. Já a minha avó materna reza o terço diariamente, ao nascer e ao pôr do sol, em sua gratidão sem fim, em sua clemência antes as fragilidades todas, humanidade afora.
Perseverança. Fá tem me ensinado, dentre tantas lindas coisas, que toda a perseverança é pouca para tocar a vastidão do mundo. Ao mesmo tempo, tem-me mostrado, no desvelar dos dias, que o mundo é esplendorosamente denso, todavia curto, haja a vista as distâncias que percorre como um passo valsado. E eu, como sou afeita a sondar espaços e tempos, tenho gostado – venerado – muito das suas lições sobre este “mundo, vasto mundo”.
Ana Clara Rebouças