terça-feira, 16 de agosto de 2011

(Por Joyce B. Freitas, Chapada Diamantina, 2011)


Do Amor, das Contradições
Dia desses, eu escrevia inspirada em Benedetti sobre o quanto o amor é uma trégua na vida. O quanto que é flor entre escombros das urgências; o quanto que é brisa frente às intempéries vulcânicas que são o concreto dos dias. Pois bem: o seria – e é mesmo – uma trégua para tudo isto, para as duras exigências todas; um lugar bom; um refúgio, uma morada desde a alma até um estar no mundo assim mais cheio de paz. Ao menos em tese, diriam os mais niilistas, pessimistas, etc.
Há um tempo escrevia também que o amor me parecia uma casa muito bem acomodada, onde se pudesse sempre se chegar descalça, despenteada, assim, meio descompromissada com as ditaduras todas, mas conclui ultimamente que não é bem deste modo que as coisas se processam. E aqui talvez resida o maior dos pecados dos amantes de longos tempos: acomodar-se não significa – em nenhuma instância – abandonar-se dos zelos, negligenciar-se dos cuidados que depuram a existência. Jamais. Inclusive, engana-se quem pensa que o amor seja completamente cego. Assim fosse, teríamos então uma grande contradição: afinal de contas, quando se amou, amou-se por inteiro, íntegro, pleno de si para contemplação própria, do outro, da vida.
Outra grande contradição seria – por desleixo, excesso de acomodação, ou coisa outra qualquer – não reservar ao amor o melhor que há em si. O que há de mais fino, de mais elaborado, mesmo na dureza que tem sido sobreviver às premências todas. Porque os cotidianos da maioria que labuta a vida são sim – ou tendem a ser – rolos compressores sobre toda sorte de delicadezas que oxigena o amor. É preciso sempre salvá-las, portanto. É preciso depurá-las com muita atenção, as delicadezas. Estar atento, pois, e isto nada tem a ver com acomodação.  
Finalmente, é preciso também interromper os óbvios. Amar é também surpreender-se em meio aos previsíveis. Canso de repetir que é imprescindível flor no meio das segundas-feiras; lilases e café nas quartas; alegrias; ousadias; sonhos renovados sempre. É preciso tanto e tão pouco para amar. Acima de tudo – repito – é preciso não perder-se de si mesmo.
Ana Clara Rebouças  

5 comentários:

  1. ...nem sequer o amor é míope... hehehe...

    ResponderExcluir
  2. Acima de tudo – GRITO! – é preciso não perder-se de si mesmo.
    :)

    ResponderExcluir
  3. Concordo 100%...e vida as delicadezas.

    P.S.:N sabia q já estava usando o novo visual.adorei.Deveras digno!hehehehe

    bjus

    ResponderExcluir
  4. "É preciso tanto e tão pouco para amar."... sem condicoes de falar qualquer coisa!

    ResponderExcluir