domingo, 1 de maio de 2011

“Seis Bilhões de Outros”


Dizia um sábio que “não padece de solidão quem tem vida interior”. Pensei nisto ao percorrer os veios tão vívidos de São Paulo, cidade pela qual tenho profundo fascínio. Era um domingo de Páscoa e, longe de casa, da família, optei por passar o dia entre “seis bilhões de outros”, como bem se intitulava a exposição em um famoso museu da capital. E assim, em meio a tanta diversidade, a tanta riqueza, esta ímpar que vem da pessoa humana, não se pode mesmo se sentir só.
É assim que São Paulo sempre me recebe: entre seus tantos milhões de outros, esta gente tão diversa, mas tão sua. São Paulo da sua gente tão exaustivamente trabalhadora. Emociona-me o trabalhador de São Paulo, o tanto de esforço com o qual tece vida. Emociona-me encontrar os conterrâneos e, aqueles que me prestam um serviço qualquer, o fazem com redobrada generosidade porque, talvez, encontrem em mim um tanto de história e de afetos que deixaram para trás.
São Paulo me recebe com suas grandes avenidas agitadas, tumultuadas de corpos e avidez, mas também me acolhe em suas ruas estreitas, pacatas, cheias de memórias e nostalgias. São calçadas cheias de doces quaresmeiras lilases: São Paulo me acolhe com a generosidade de um céu claro, mas também com sua garoa tristonha ou as chuvas tórridas sobre mentes e corações.
São Paulo é o mundo todo; é Brasil norte a sul; é nordeste, sua gente, força, persistências, temperanças. São Paulo é contínua construção: sua ética, sua lógica, suas métricas. São Paulo é ousadia: sua estética libertária, revolucionária, renovada nos tempos, espaços. São Paulo me acolhe com as suas surpresas. São Paulo é pulso, impulsos, sonhos, projetos. São Paulo é poesia, é concreto, é pluma, é densidade. Poemas, suspiros fumos no ar...
Ana Clara Rebouças

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