quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013






Subversiva

A poesia
Quando chega
Não respeita nada.
Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos
Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha
Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.
E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.
E promete incendiar o país.

Ferreira Gullar

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Digo Sim


Poderia dizer
Que a vida é bela, e muito,
E que meu coração
É um sol de esperanças entre pulmões
E nuvens
Mas não. O poeta mente.

A vida nós a amassamos em sangue
E samba
Enquanto gira inteira a noite
Sobre a pátria desigual
A vida
Nós a fazemos nossa
Alegre e triste, cantando
Em meio à fome
E dizendo sim
– em meio a tanta violência e a solidão dizendo sim –

Pelo amor e o que ele nega
Pelo que dá e que cega
Pelo que virá enfim,
Não digo que a vida é bela
Tampouco me nego a ela:
- digo sim.


Ferreira Gullar

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