(Rosa
e Celeste, Mendoza, 2013 por ACRC)
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Subversiva, Digo Sim!
Para Juliana Mendes (a Xoly)
Dia desses deparei-me, nada mais nada menos, com a delicada subversão contida em cada verso do nosso grandioso e notável Ferreira Gullar. Qual foi a minha surpresa ao me inquietar com o golpe certeiro de cada palavra, justo sobre a quietude das minhas próprias palavras, tão ausentes por aqui. Dentre as riquezas das suas poesias, Subversiva e Digo Sim me alvejaram sem quaisquer possibilidades de defesa!
Subversiva cortou-me alma dentro, com precisão de navalha, lembrando-me, com pulso firme, que poesia é de fato soberana, rebelde, impositiva frente à seriedade dos
dias. Poesia ri deliberadamente da burocracia porque procrastina prazos e
nem mesmo reconhece a noção própria de hierarquia. Quebra protocolos, duvida da sensatez. Que não se enganem: poesia rompe as convenções
porque livre, tal como se quer ser.
Exemplo particular disto é: quanto mais tenho compromissos e urgências,
mas a poesia chega arrebatadora, e arrebentando tudo. Senta-se displicente e confortável
sobre os meus caos e ebulições, não está nem aí para isto, mas me faz
clandestina e absurdamente feliz. Para mim, poesia é poesia mesmo, assim, stricto senso. É sentar e escrever,
escrever, reescrever, amar e odiar as palavras até um determinado ponto final. Para
outros, poesia é qualquer coisa que dê muito prazer e que traga tréguas ao
cotidiano das obrigações. Em ambos os casos, poesia pausa as durezas da vida,
daí, a sua irresistível tentação, sua doce subversão.
Digo Sim, por sua vez,
pousou-me sobre os ombros – leveza de borboleta, peso de missão – e eis que me
encontro mesmo impelida a retomar palavras em ponto de cruz, ou o que chamam por aí de
poesia. E lá se vou eu, como sugere o poeta, e em meio a tantos encontros e
desencontros, dizer sim mais uma vez. E por que não?! Então, sim! Que venha - rebelde e subversiva - a poesia nossa de cada dia!
Ana Clara Rebouças