sábado, 7 de abril de 2012




(Lírio por Cibelle Moraes, Chapada Diamantina - Ba, 2011)
 
Das cruzes, da felicidade

Dia desses, eu me flagrava pensando inquieta que felicidade, ou isto que chamam de, pressupõe aceita-la, assim, alma aberta. E ocorreu-me pensa-lo justo porque sempre vejo o contrário: gente que simplesmente não a aceita, a felicidade. Daí, fiquei me questionando sobre os motivos e, dentre eles, conclui que muitas vezes se trata daquilo que chamam de “culpa cristã”.

Obviamente, a culpa está longe de ser de Cristo e tem muito mais a ver com as (más) interpretações das suas palavras, as distorções todas Ou, algo como Caeiro havia dito em seu oitavo poema: criou-se um Cristo eternamente na cruz; e deixou-o pregado na cruz que há no céu, e serve de modelo às outras. Claro que o criticaram ferrenhamente por isto, os mandantes do além mundo. Todavia, sigo concordando que é preciso – para se ceder espaço, para enfim aceita-la, a felicidade – é preciso recusar as cruzes todas enquanto modelo ou exemplo a seguir, como se tivéssemos sempre um preço alto a pagar pela condição.

Felicidade é algo como um estado espontâneo, transitório e necessariamente sem cruzes enquanto moeda de troca, isto é, tê-la não implica suplicio, calvário. Felicidade não é roda de espinhos sobre alma leve, que só encontra morada nisto que chamam de liberdade. Definitivamente, felicidade é livre; prescinde de tudo isto. Felicidade é fé, renovação, ética. Benevolência sim, e pelo simples fato de se fazer bem faz bem, nada tem a ver com culpa, com cruzes, sofreres. É isto, nada mais, esta tal felicidade.

Ana Clara Rebouças

2 comentários:

  1. ...a propósito, Fernando Pessoa e suas ilustres "pessoas" sempre para nos libertar das "cruzes"e outras coisitas mais... No caso do texto, vale reler o VIII poema de Caeiro, e o seu menino-Jesus reinventado...lindo, libertador!

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