Da poesia enquanto vida
Eis que chego à conclusão, passados alguns meses em uma espécie de hibernação criativa, por assim dizer, que poesia é necessidade diária. E, assim sendo, é preciso sim ceder espaço ao verso inusitado ou ao poema elaborado em meio ao turbilhão da rotina, das urgências, da entropia toda do viver.
E eis que a conclusão chega pelas mãos zelosas de uma amiga que resolveu me presentear com os versos lancinantes de Hilda Hilst, e foi um “soco”, como mesmo diz a poetisa. É mesmo necessária dose diária de poesia.
Conclui que a palavra é um caminho, como tantos outros. Todavia, poesia é parada obrigatória nesta minha trajetória vida afora. É esforço, experimentação, idas e vindas. Poesia é lição de casa, exercício diário, não há como negligenciar. Felicidade nem sempre vem gratuita, diria, quase nunca. Atenção, por exemplo, é moeda mínima.
No mais das contas, há quem espere de mim que eu seja toda som. Há quem almeje que eu seja toda tons, passos, compassos. Há quem sugira que eu seja simplesmente magra, independente das escolhas e trajetos. Há quem exija que eu seja simplesmente pensamentos e pó de giz. Levo seguindo um pouco de tudo, dos conselhos, anseios alheios até o que me diz honestamente a alma minha.
Concluo contudo que, independente, poesia é o meu melhor estar. Riso mais leve, verdade mais sincera, suspiro mais profundo.
Ana Clara Rebouças